A Carta das Mulheres para a COP 30 pode te representar

Por Adriana Vasconcelos
Correio Braziliense
A Carta das Mulheres para a COP 30 pode te representar

Estou cada dia mais convicta de que só uma, mas não sou só.Exatamente como canta Sued Nunes, autora da música Povoada, que virou uma espécie de hino da Quero Você Eleita: esse laboratório de inovação política ao qual fui apresentada pela advogada e uma das cofundadoras deste laboratório de inovação política, Gabriela Rollemberg. Isso, em meio a pandemia de Covid, enquanto arregimentava apoio de mulheres da sociedade civil à candidatura Simone Tebet à presidência do Senado, em janeiro de 2021. A primeira senadora a disputar o cargo o comando da Casa em 200 anos de história.

Não demorou muito para eu virar uma das consultoras da Quero Você Eleita e me engajar no trabalho de capacitação de lideranças femininas. O universo foi conspirando a favor, abrindo portas para novas conexões, intensificadas ao longo da organização do Festival de Inovação Política: Bancada Feminina na COP 30, realizado nos últimos dia 7 e 8 de outubro em Brasília, como uma reunião preparatória para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que acontecerá em Belém, no Pará.

Conseguimos unir em dois dias de painéis mulheres das cinco regiões do país, de todas as cores, credos e opiniões, que, apesar da diversidade, mostraram-se unidas por um mesmo ideal: assegurar um planeta mais saudável, sustentável e justo, especialmente para elas próprias.

Muitas com as mesmas dores, enfrentando os mesmos desafios em suas trajetórias pessoais e profissionais, sentindo a mesma angústia em determinados momentos.

Cada uma com sua história, compartilhando seus aprendizados, superações e disposição para correr atrás de seus sonhos, a despeito dos obstáculos, preconceitos e machismo estrutural ainda prevalentes em nossa sociedade.

Ficou muito claro o compromisso feminino com a sustentabilidade do planeta. Algo que passa, necessariamente, por um novo modelo econômico de baixo carbono, aceleração da transição energética, mas também pela redução das desigualdades e de gênero.

Inúmeras portas ainda precisam ser abertas por essas mulheres, para que elas possam ter voz e influir efetivamente, sem pedir licença, nas decisões nacionais relativas a políticas públicas que possam mitigar os efeitos da crise climática.

Algo que ficou evidente, aliás, ao constatarmos que muitas das palestrantes do festival foram pioneiras na ocupação dos cargos conquistados. Como a deputada federal Carol Dartora, primeira mulher negra eleita pelo estado do Paraná; a prefeita de Uberaba, Elisa Araújo, também a primeira mulher a comandar seu município, 200 anos depois de sua criação. Situação semelhante vivenciada pela ministra Maria Elizabeth Rocha, que contou sua trajetória até se tornar a primeira mulher a assumir o comando do Superior Tribunal Militar.

Foi exatamente essa percepção que levou as bancadas femininas da Câmara e Senado a redefinirem sua estratégia de ação, ao constatarem que, a despeito das diferenças ideológicas e partidárias, elas tinham muito mais pontos de vista em comum do que divergentes, como reiterou a deputada Soraya Santos (PL-RJ). Ela, aliás, foi uma das artífices desta estratégia de ação suprapartidária, que vem colhendo sucessivas vitórias nas duas Casas do Legislativo e mostrando para todos nós que há luz no fim do túnel em meio a polarização política que prevalece hoje no país.

Todas e todos que participaram do festival se dispuseram a contribuir na elaboração da Carta das Mulheres para a COP 30, um texto que está sendo construído de maneira coletiva e tem como destinatário principal o embaixador André Lago, presidente da Conferência do Clima deste ano.

As sugestões foram recebidas através até o último dia 17 de outubro e serão sistematizadas pelo Grupo Mulheres do Brasil, o maior movimento político suprapartidário do mundo, hoje presenta em 19 países e reunindo 140 mil mulheres.

A prioridade agora é ouvir que está na ponta: a ribeirinha, a indígena, a preta, que mora na periferia ou na floresta, para que todas as mulheres tenham voz neste debate tão essencial para o futuro da humanidade. Que este documento jogue luz e inspire compromissos do Brasil e da comunidade internacional com um desenvolvimento sustentável o mais inclusivo possível!