Uma jornalista e cinco presidentes

Por Adriana Vasconcelos
Exclusivo para o site
Uma jornalista e cinco presidentes

A política entrou na minha vida por meio do jornalismo, logo cedo. Aos 21 anos de idade, trabalhando no Correio Braziliense, fiz minha primeira cobertura acompanhando um presidente da República. No caso, José Sarney, o primeiro civil a assumir a vaga após 21 anos de ditadura militar.

Estava em Manaus, em 1988, fazendo uma matéria sobre a 'Escola da Natureza', projeto experimental do Colégio Objetivo para levar alunos a terem aula de Geografia e Biologia no meio da Floresta Amazônica.

Como o então presidente José Sarney estava indo para a capital amazonense, o jornal então me pediu que eu acompanhasse sua visita. O jornalismo era uma outra realidade, as matérias ainda eram escritas em máquinas de escrever manuais e transmitidas por Telex.

Assim fiz minha estreia em coberturas presidenciais, o que só retomei dois anos depois, já com Fernando Collor de Mello tendo vencido a primeira eleição direta após a ditadura militar.

Eleito no segundo turno da disputa, contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva, Collor se destacou na disputa pelo bom uso do marketing político, que transformou o governador de Alagoas em "Caçador de Marajás" e depois o alçou à Presidência da República.

Adorava a liturgia do cargo. Gostava de ver os jornalistas se enfileirarem para vê-lo desembarcar do helicóptero que o trazia da Casa da Dinda, onde optou morar, até o Palácio do Planalto, embora se recusasse a dar bom dia ou boa tarde aos setoristas. Aliás, mesmo percurso que percorreu pela última vez após ser notificado pelo impeachment inédito aprovado pela Câmara dos Deputados. Desta vez, sob gritos de funcionários que pediam que ele fosse revistado e sugeriam que fosse levado para o presídio de "Bangu 1. Bangu 2", conforme os berros que podiam ser ouvidos.

Itamar Franco, seu vice, assumiu a vaga interinamente até o julgamento final do processo de cassação no Senado Federal. Com estilo bem diferente de Collor, Itamar volta e meia convidava os jornalistas que aguardavam sua chegada ao Planalto para comer pão de queijo em seu gabinete.

Como bom mineiro, tinha um estilo próprio para lidar com crises com a base aliada. Não sucumbia a chantagens e, certa vez, criou constrangimentos a uma das raposas políticas mais experientes da cena nacional: o então senador Antonio Carlos Magalhães, que prometia soltar um dossiê com denúncias contra sua gestão. Durante a audiência, o presidente mandou chamar os setoristas para conhecerem as denúncias, que esfriaram o afã de ACM de encurralar o governo.

Coube a Itamar lançar Fernando Henrique Cardoso como sucessor, após perceber que havia acertado em cheio ao escolhê-lo como ministro da Fazenda e lhe dado autonomia para que montasse a equipe que idealizou o Plano Real, responsável pelo fim da hiperinflação e a volta da estabilidade econômica.

Dessa forma, acabei sendo designada para cobrir a primeira campanha presidencial da minha vida. Era 1994 e, nesta época, eu já trabalhava na Gazeta Mercantil, e tive de dividir a maternidade com as eleições. Mas como eu conhecia FHC dos tempos de Senado, assim como boa parte dos tucanos, me sai bem.

Logo após sua posse, o presidente Fernando Henrique organizou um jantar no Palácio do Alvorada para um grupo restrito de jornalistas, no qual me incluiu. FH colocava em prática um novo estilo de governar, investindo para manter um canal próximo de interlocução com a mídia, graças à então secretária de Comunicação da Presidência, Ana Tavares. Alguns meses depois me transferir para o jornal O GLOBO, veículo onde trabalhei 17 anos.

Com seu candidato à sucessão, o também tucano José Serra, tentando ocultar sua relação com o governo durante a campanha presidencial em 2002, Fernando Henrique não demonstrou qualquer constrangimento de fazer a transição para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou eleito presidente após a três tentativas frustradas.

Cobri a campanha de Lula em 2002, talvez uma das mais bem planejadas que tenha visto até hoje. Sob o planejamento estratégico do então deputado José Dirceu e a genialidade de Duda Mendonça, uma das estrelas do marketing eleitoral, a campanha petista se viabilizou com a escolha de um vice empresário e senador por Minhas Gerais, José Alencar.

Acompanhei também sua primeira viagem internacional aos Estados Unidos depois de eleito. Durante suas passagens por Washington e Nova Iorque que Lula escolheu Henrique Meirelles, então senador eleito pelo PSDB de Goiás, para ser presidente do Banco Central. O que mostra que as coisas andam e mudam rápido no mundo da política.

Essa é apenas uma parte do que vivi como jornalista política, experiência que ajudou na minha formação profissional até me tornar consultora em comunicação estratégiva.