As mulheres se prepararam para ocupar os espaços de poder

por Adriana Vasconcelos

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Roberto Freire se rendeu na última segunda-feira (23) à uma ‘Roda de Mulheres do Cidadania’, partido que preside. Por 2 horas, entregou-se sem medo às inquietações e mesmo algumas provocações de um grupo de 7 mulheres dos mais diversos cantos do país. Com uma felicidade genuína, confirmou o que já havia percebido durante a última campanha eleitoral: que as mulheres se preparam de fato para ocupar os espaços de poder.

Os 5% dos recursos do Fundo Partidário destinado à capacitação de lideranças femininas, claro, começaram a surtir efeito para os partidos que fizeram o dever de casa. Com o reforço estratégico dos movimentos de renovação política, como RenovaBR, Livres e Acredito, para os quais Roberto Freire abriu de pronto as portas do partido.

“Na campanha, eu já havia percebido isso. Eu comecei a sentir um nível de participação da mulher com muita qualificação. Eu diria que muitas apareceram com muito maior articulação do que os homens. O que não significou nenhuma grande explosão do ponto de vista eleitoral, mas deu para sentir que existe um crescimento de quadros políticos e de compreensão da política, da parte das mulheres. Eu tenho um ‘felling’ de que talvez estejamos assistindo um incremento da presença da mulher na política aqui no Brasil. Então se preparem para isso!”, recomendou Roberto às sabatinadoras, logo no início do debate.

O prognóstico pode ser apenas um ‘felling’ sem maiores consequências, mas em se tratando de Roberto Freire, é melhor ficar de olho. Basta olhar para trás e seguir sua trajetória política, que começou no antigo partidão, o PCB, que ao longo dos anos foi se renovando de verdade, virou PPS, agora Cidadania, sempre na vanguarda da política brasileira. Sem medo de reconhecer erros ou de aceitar o novo.

Ao longo do debate, foi citando episódios recentes da cena política brasileira onde a atuação feminina lhe chamou a atenção, como na CPI da Covid, na qual a bancada feminina tem se destacado, mesmo sem nenhum cargo formal. E admitiu que está faltando uma mulher à mesa do seleto grupo de líderes de centro que estão atrás de uma candidatura alternativa à de Lula e Bolsonaro.

“Simone Tebet (MDB-MS) é uma pessoa que está despontando. Essa CPI ajudou muito a colocá-la e colocar também em função do trabalho que ela, junto com a nossa Eliziane Gama (Cidadania-MA), está fazendo. Ela conseguiu um feito interessantíssimo, por cima de regimento, de tudo. Você tem uma presença da mulher, que em alguns momentos é tão ou mais marcante do que a dos homens. A Simone teve atuações muito significativas na CPI”, reconheceu.

Provocado por uma das veteranas da Roda, Tereza Vitale, Roberto Freire aceitou abrir no Cidadania o debate interno sobre a paridade de gênero dentro e fora do partido.

“Se vocês tiverem quadros para isso, a luta pode ser vitoriosa. Eu não serei empecilho algum”, adiantou, acrescentando: “Eu acho isso importante, não vejo como um problema. Ao contrário, acho que pode até ser muito positivo, até para ver se os homens despertam. Porque aí vai ser uma disputa, eles vão ter de entender em que vocês vieram para ocupar também o lugar em que eles não pensavam que estava em aberto”.

Foi quando a doce Juliet Matos _ a responsável, conforme descobrimos durante a Roda de Mulheres, pela filiação da ativista trans Mari Valentim ao Cidadania _, mostrou a Roberto Freire que não só muitas mulheres estão preparadas para atuar na política, como estão se destacando:

“Tenho uma pesquisa, é um estudo preliminar, que precisa passar pela revisão dos pares, de um economista do Insper, em parceria com a Universidade de Barcelona, que mostra que nos municípios brasileiros que têm prefeitas ao invés de prefeitos, tiveram 44% menos mortes e 30% menos internação agora na pandemia da Covid. Mostrando que nós temos sim mulheres que são capacitadas”.

Diante dos desabafos que ouviu de Mari Valentim, que expôs seu desconforto com o preconceito diário que enfrenta em dose dupla: por ser mulher e trans, Roberto Freire a convidou ao vivo para integrar a direção do Cidadania, como forma de dar mais visibilidade à sua luta. Ainda mais após ser impactado novamente por Mari: “Eu queria aproveitar que o Roberto falou do Talibã, só para trazer um dado para ele. O Brasil é o país que mais mata mulheres trans no mundo”.