As mulheres voltaram ao segundo plano após as eleições

por Adriana Vasconcelos

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Passada a eleição, começou a rarear a presença feminina nas principais rodadas de reuniões do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, salvo pela constante presença da presidente nacional do PT, Gleisi Hofmann (PR), na maior parte desses encontros. Caso contrário, teríamos só homens na foto.

Em sua primeira passagem por Brasília desde que foi eleito, Lula se reuniu com os presidentes de Poder e, só por isso, acabou encontrando, enfim, com uma interlocutora feminina: a ministra Rosa Weber, hoje à frente do STF.

Está soando também muito tímida a iniciativa de Alckmin convidar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) para coordenar o grupo da área social da transição ou de Anielle Franco para cuidar da pauta das mulheres.

Enquanto isso, conhecidas lideranças masculinas assumem a linha de frente novamente e já se reorganizam de acordo seus próprios interesses. E as tão festejadas mulheres que participaram ativamente do segundo turno da eleição retomaram seu papel de coadjuvantes.

A foto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) sorridente ao lado de Lula simboliza bem a já aguardada aproximação do Centrão do futuro ocupante da cadeira presidencial, antes mesmo de sua posse.

Os poderosos seguem os mesmos

O Poder vai mudar de mãos, mas os poderosos parecem que seguirão sendo os mesmos. O armistício que Lula prometeu aos demais Poderes da República deverá inclui a não interferência do Planalto na disputa pelo comando da Câmara e há sinais de que o fim do Orçamento Secreto ficará para depois.

Veterano entre as lideranças políticas na ativa, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) já percebeu o congestionamento de gente em torno do futuro presidente e defendeu esta semana a independência de seu partido do governo.

O PSDB saiu desta eleição como uma legenda quase nanica. Depois de gastar R$ 11 milhões em prévias para a escolha de seu candidato à Presidência, ficou de fora da disputa e ainda perdeu a joia da coroa: o governo de São Paulo.

A eleição de 3 governadores no segundo turno das eleições, Raquel Lyra (PE), Eduardo Leite (RS) e Eduardo Riedel (MS), se transformou na tábua de salvação dos tucanos e levou a legenda a anunciar desde já a substituição do atual presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo (PE), pelo governador gaúcho em maio de 2023.

Que a governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra, não seja escanteada. Afinal de contas, ela foi a responsável por interromper 16 anos de governos do PSB no estado e desponta como uma das novas estrelas da política nordestina.

Clube do Bolinha

Já a cúpula do MDB parece ter esquecido rápido a projeção que Tebet garantiu à legenda ao longo da corrida presidencial, por ter conseguido pautar o debate entre os candidatos no 1º turno e ter se transformado em protagonista do 2º turno, ao anunciar seu apoio à candidatura de Lula.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), decidiu colocar Tebet na cota pessoal de Lula na composição da equipe de transição e anunciou as indicações oficiais da legenda, um trio masculino formado pelos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), e o ex-governador gaúcho Germano Rigotto.

'Cerimonialista' da posse

Por fim, nesta transição em que poucos temas são delegados às mulheres, coube à futura primeira-dama ou 'primeira-companheira' _ como ela propria prefere ser chamada_, a socióloga Rosângela Lula da Silva, mais conhecida como ‘Janja’, um papel de ‘cerimonialista’ da posse.

Talvez por não terem compreendido como Janja resgatou o perfil emocional que sempre marcou as campanhas petistas, ao estimular um movimento da classe artística em favor da candidatura de Lula quando decidiu colocar em prática a ideia de regravar o jingle ‘Lula lá’, como um presente de casamento ao marido.

Um começo pouco promissor sob o ponto de vista feminino.