Os desafios da comunicação partidária

Foi um grande desafi deixar uma das principais redações do país para coordenar a comunicação de um partido político nacional, que disputou todas as eleições presidenciais desde o fim do regime militar e já havia governado o Brasil por 8 anos.

Embora fosse algo que eu já viesse cogitando e tivesse vontade de experimentar, o processo foi acelerado pela minha saída inesperada do jornal O Globo. Talvez por isso, confesso que em alguns momentos me rebelei contra essa mudança de rota profissional, mas que me permitiu conhecer as entranhas da vida partidária brasileira como poucos.

Sem dúvida alguma, foi minha ‘pós-graduação’ dentro da Comunicação Política. E abriu caminho para que eu trabalhasse pela primeira vez numa campanha presidencial, em 2014, depois de ter acompanhado 5 disputas presidenciais como repórter.

Os 2 lados da política

Conviver com lideranças políticas nacionais foi sempre algo natural para mim, que nasci em Brasília e me especializei na cobertura política ao longo dos 26 anos em que atuei como repórter.

Mas uma coisa é acompanhar a disputa de poder de fora, outra é estar no centro dessa briga.

É preciso estar preparado para todo tipo de intriga, ciúmes e boicotes. Aprendi na prática que lidar com aliados, na maioria das vezes, é mais difícil do que encarar adversários declarados.

O desafio que tinha pela frente era estruturar uma rede de comunicação nacional, com capilaridade, para encontrar o eleitor em um país de dimensão continental. E trabalhar pela unificação o discurso do partido sobre temas relevantes, iniciando a partir daí a mobilização da militância para a disputa presidencial que aconteceria 2 anos depois.

Aproveitei minha experiência de redação para criar uma agência de notícias partidária, que desse visibilidade não só aos principais posicionamentos da Direção Nacional, como também de suas principais lideranças, fossem elas nacionais, estaduais ou municipais.

Integração foi a chave do sucesso

Minha primeira providência foi mapear as diferentes estruturas que atendiam o partido nos estados e no Congresso Nacional para iniciar um processo de integração.

Quando assumi a coordenação da Comunicação do PSDB Nacional, pelo menos 16 diretórios estaduais do partido não tinham qualquer estrutura de comunicação organizada, embora em alguns desses estados os tucanos comandassem o governo estadual e também a prefeitura da capital.

Além de oferecer a esses diretórios um site e perfis oficiais nas redes sociais, convenci a direção nacional do partido a custear, por 2 anos, a contratação de um assessor de Comunicação em cada um desses estados.

Para que os diretórios não encarassem a medida como uma intervenção, delegamos aos presidentes estaduais a tarefa de contratar esse profissional, com o compromisso desse funcionário ajudar na divulgação local de conteúdos produzidos e organizados pela Coordenação Nacional de Comunicação do partido, junto a militância e a mídia.

Estabelecemos um canal de diálogo com as assessorias que atendiam os governadores, prefeitos, deputados federais e senadores do partido, para reforçar a divulgação das ações das lideranças nacionais.

Incorporamos ainda a essa rede os diferentes segmentos do partido: mulheres, juventude, negros, sindicalistas e diversidade, que passaram a contribuir na produção de conteúdo.

Depois do plantio, veio a colheita

Em 2014, o PSDB chegou perto, mas perdeu a disputa presidencial por uma diferença pequena de votos no segundo turno. E 2 anos depois, o partido consagrou-se como o maior vitorioso da eleição municipal de 2016.

Veio o impeachment da presidente Dilma Rousseff e tudo parecia abrir caminho para a volta do PSDB ao Planalto, até o partido ser atingido pela Lava Jato em 2017, o que acabou tendo efeito devastador no seu desempenho na disputa eleitoral de 2018.

Tentei em vão me afastar da política depois disso, mas a política não quis me deixar.