Até que ponto a imprensa tem responsabilidade pelo atual cenário político brasileiro?

Ouso dizer que o jornalismo brasileiro precisa urgentemente fazer uma autocrítica e enfrentar de peito aberto uma ‘crise existencial’ que ronda o mercado há algum tempo.

Os efeitos deletérios da pandemia e os ataques sistemáticos do presidente da República à imprensa, claro, contribuem para a instabilidade do setor, mas as razões dessa crise vão muito além.

Nos últimos anos, o jornalismo brasileiro se perdeu ao se deixar levar por perigosas ondas do senso comum, estimuladas pelas redes sociais e pela tirania do politicamente correto, onde todos são culpados até se prove o contrário.

Sem diminuir o papel essencial da mídia independente numa democracia, é preciso reconhecer também os excessos da imprensa.

As denúncias passaram a ser o foco principal da notícia. Não que desvios de recursos públicos, mal feitos de autoridades, empresários ou quem quer que seja não mereçam espaço e destaque no noticiário. Mas certamente não deveriam ser o único alvo.

A criminalização da política nacional nos levou ao cenário que vivemos hoje e afasta hoje pessoas sérias da vida pública.

Por isso, uma reflexão se faz necessária neste momento sobre a responsabilidade de cada um no caos em que vivemos.