“Eu tenho vergonha de dizer que sou política”

por Adriana Vasconcelos

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Essa foi a frase que ouvi recentemente de uma cliente, eleita vereadora no ano passado.

Não foi qualquer eleita, foi a mais votada de seu município, para onde se mudou há menos de uma década para assumir o comando da Delegacia de Mulheres da cidade.

Um sonho que abraçou logo que foi aprovada no concurso para ser delegada de polícia e, também, a projetou politicamente, já que assumiu a linha de frente na defesa de mulheres vítimas dos mais diferentes tipos de violência.

Mas, desde que assumiu o cargo de vereadora, a delegada virou também alvo de violência, só que política, por parte de colegas da Câmara de Vereadores, uma vez que se tornou uma das poucas vozes da oposição ao prefeito da cidade.

Ela incomoda o ‘status quo’ não só porque é novata na política, mas também por que chegou na condição de mais votada e ainda decidiu, à revelia da velha guarda da política local, cumprir seu papel de fiscalizadora das contas do município.

Esse seu trabalho de fiscalização deflagrou este ano, uma ação policial no município por desvio de R$ 2 milhões de recursos da saúde em meio a pandemia.

Sua conduta irretocável como servidora pública no sentido amplo da palavra, tanto como delegada quanto como vereadora, é fruto de da busca do eleitor por novas lideranças políticas, que representem efetivamente uma mudança de rumo na gestão do dinheiro público. Sem desperdício ou corrupção.

Afinal de contas, 40,82% do rendimento médio pago a trabalhadores no Brasil são consumidos em impostos. Cada um deles trabalha 149 dias por ano para financiar o Orçamento Público do Brasil, o chamado dinheiro público, que muitos acreditam não ter dono.

A vereadora decidiu ingressar na vida pública com o objetivo de combater a corrupção de verdade. Não só no discurso, como muitos o fizeram em 2018, surfando no rastro da finada Operação Lava Jato, que desbarato um dos maiores esquemas de pagamento de propina do mundo.

Recusou-se a usar dinheiro público em sua campanha. Tem uma relação distante com o próprio partido e optou por não fazer dobradinha ou aliança com qualquer outro político.

Na verdade, isso é reflexo do temor de ver seu nome vinculado a outros políticos que possam não ter os mesmos princípios que ela. Assim acredita que está se protegendo não só como vereadora, mas também como delegada.

Foi neste contexto que ela confessou que em vários momentos sente vergonha de dizer que é política. Ainda mais em tempos de julgamentos sumários e rasos, que costumam nivelar as pessoas por baixo, pelos maus exemplos e não os bons.

É uma pena que essa imagem negativa vinculada a políticos brasileiros, afaste e intimide legítimos representantes da população no estrito cumprimento de seu dever de lutar por um Brasil melhor para todos.

Cabe a cada um de nós mudar essa história! Sozinhos ou apenas reclamando, não chegaremos a lugar algum.